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Coluna do Samuel

Efêmeras coisas


Um desses dias sem inspiração, perguntei a uma amiga se ela tinha alguma ideia que eu pudesse escrever. Não queria escrever sobre o fato de não ter inspiração, que apesar de ser um assunto já muito manjado entre os cronistas, só fica bom por quem sabe fazê-lo.


Então ela me disse pra falar o quão efêmeras são as coisas. Minha ignorância me permitiu perguntar o que eram as tais "coisas efêmeras", e ela me disse que são as coisas passageiras e transitórias da vida.Foi aí que percebi que odeio as coisas efêmeras, nunca fui amiga das mudanças e das coisas que passam rápido pelas nossas vidas (talvez seja coisa de signo, sei lá).


Essa minha amiga por exemplo, ela não é algo efêmero na minha vida porque fizemos todo possível para não ser. Hoje ela tem uma realidade completamente diferente da minha, mora em outra cidade e nos vemos aos trancos e barrancos, nos finais de semana. Nossa amizade começou e poderia ter terminado no ano passado, se não trabalhássemos para o contrário, ela sofre pra conciliar as visitas à família e aos amigos quando vem pra cá.


Mas como saber que mesmo com todo esse nosso esforço ela não é uma amizade efêmera? Ano que vem ela pode estar em uma cidade diferente da que está agora, e suas visitas diminuírem drasticamente. Aproveito enquanto posso, acho que se ela tivesse sido uma amizade efêmera (que às vezes não percebemos estarem sendo "efemerezadas"), e não tivéssemos a relação que temos hoje, eu ia ter sido privada de ter conhecido tantas pessoas maravilhosas que vieram de consequência à amizade dela, não saberia das músicas melosas que ela me manda de vez em quando, e não teria as melhores memórias do ano passado que na maioria, ela está envolvida.


O problema de não sabermos se algo que estamos passando, ou pessoas que estamos conhecendo são passageiras, é o fato de não aproveitarmos o suficiente. Se eu soubesse que aquele dia na escola seria a última vez que eu passaria o intervalo com ela, eu teria o aproveitado muito mais. Teria, como eu e minhas amigas costumamos dizer quando gostamos muito do momento, "congelado o dia".


É o velho papo do "você não sabe o dia de amanhã", ou então "Carpe Diem". Não vou ficar falando aqui que não podemos esquecer de falar "eu te amo" pros nossos pais toda vez que os vemos, ou de pedir benção pra avó quando for embora da casa dela. Até porque o ponto do texto não é esse.


As coisas efêmeras talvez não tenham sido feitas para serem aproveitadas mais do que outras, só porque vão ficar menos tempo na sua vida não significa que tenham que ser vangloriadas e idolatradas, afinal, não vão ficar muito tempo mesmo. Não faz mais sentido valorizar o que sempre vai estar lá? Ou na verdade precisamos valorizar exatamente por não sabermos se vai ficar sempre lá?

Eis a questão. Não precisa ter uma resposta. Porque aliás, esse texto será muito provavelmente só mais um exemplo do efêmero aos seus olhos.



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