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Coluna do Samuel

A Mais-Valia Relativa


A força de trabalho, produzindo um valor maior do que seu preço de custo (salário), isto é, uma mais-valia, valoriza o capital, ou seja, o capital é valor que se auto-expande, gera mais valor, através da extração da mais-valia e, em seguida, aumentada a mais-valia por meio da prolongação da jornada de trabalho, proporcionou ao capital uma nutrição suficiente para a sua primeira idade.


Mas, o capital cresce, e a mais-valia deve aumentar ainda para satisfazer as suas necessidade acrescidas. E aumento de mais-valia não significa outra coisa senão nova prolongação da jornada de trabalho: esta jornada, entretanto, apesar de ter uma extensão muito elástica, encontra, por fim, o necessário limite.


Com efeito, por mínimo que seja o tempo deixado pelo capitalista ao operário, pra que este satisfaça as suas necessidades mais indispensáveis, a jornada de trabalho será sempre inferior a vinte e quaro horas (como discutido em um texto anterior). A jornada de trabalho encontra um limite natural, e o crescimento da mais-valia, consequentemente, um obstáculo intransponível. Representemos uma jornada de trabalho pela linha AB:


A letra A indicará o começo, a letra B o fim, isto é, o termo natural além do qual não é possível passar. Seja AC a parte da jornada durante a qual o operário produz o valor equivalente ao salário recebido, e CB a parte da jornada durante a qual ele produz a mais-valia. O trabalho AC, pelo qual se reproduz o valor do salário, chama-se trabalho necessário, enquanto o trabalho CB, que produz a mais-valia, se chama sobretrabalho. O capital tem sede de sobretrabalho, porque é o sobretrabalho que faz nascer a mais-valia. O sobretrabalho prolongado estende a jornada de trabalho; e esta acaba por encontrar seu limite natural B, que representa um obstáculo intransponível para o sobretrabalho e para a mais-valia. O que fazer então? O capitalista acha logo o remédio. Observa que o sobretrabalho tem dois limites: um B, termo da jornada de trabalho; o outro, C, termo do trabalho necessário. Ora, se o limite B é imutável, o mesmo não acontece com o limite C. Se se consegue transportar o limite C para o ponto D, o sobretrabalho CB ficará acrescido da extensão DC e, ao mesmo tempo, diminuído da mesma o trabalho necessário AC. A mais-valia terá achado, assim, o meio de continuar a crescer, não mais de maneira absoluta como precedentemente, isto é, pela prolongação sempre crescente da jornada de trabalho, mas pelo aumento do sobretrabalho por uma diminuição correspondente de trabalho necessário. A primeira era a mais-valia absoluta, a segunda é a mais-valia relativa.


A mais-valia relativa se baseia na diminuição do trabalho necessário; O custo de mão-de-obra diminui por unidade produzida, por conta do aumento da produtividade do trabalhador. Ele recebe menos por unidade, mas seu salário não se modifica. O barateamento das mercadorias faz com que elas "caibam" no salário dos trabalhadores, o que faz com que se reduza a necessidade de aumentos nominais de salário.

O trabalhador, sintetizando, produzirá mais, ganhará menos por unidade produzida, porém permanecerá recebendo o seu salário de antes. Já que, agora, o preço diminuído das mercadorias está acessível ao salário.

Haveria um meio mais prático de produzir a mais-valia, dirá alguém: seria pagar ao trabalhador um salário inferior ao que ele recebe, isto é, não lhe pagar o preço justo de sua mercadoria, a força de trabalho. Esse expediente, muito frequentemente empregado na prática, não será levado em consideração, porque só admitirei o mais perfeito cumprimento da lei das trocas, segundo a qual todas as mercadorias e, consequentemente, também a força de trabalho, devem ser vendidas e compradas a seu justo valor. Meu capitalista é um burguês absolutamente honesto; para fazer crescer o seu capital, não usará jamais de um meio que não seja inteiramente digno dele.


Suponhamos que, numa jornada de trabalho, um operário produza seis artigos de uma mercadoria que o capitalista vende pelo preço de 7 reais e 50 centavos, porque no preço dessa mercadoria a matéria-prima e os meios de trabalho entram por 1 real e 50 centavos e a força de trabalho, de doze horas, por 6 reais; os três elementos reunidos formando a soma de 7 reais e 50 centavos. O capitalista acha sobre o preço de 7 reais e 50 centavos de sua mercadoria, uma mais-valia de 3 reais, e , sobre cada artigo, uma mais-valia de 50 centavos, porque, sendo o salário do operário de 3 reais e o dispêndio de matéria-prima e de meios de trabalho de 1 real e 50 centavos, para cada artigo, ele dispendeu 75 cêntimos e retira de cada um 1 real e 25 centavos. Suponhamos que, com um novo sistema de trabalho, ou somente com um aperfeiçoamento do antigo, o capitalista chegue a duplicar a produção e que, no lugar de seis artigos por dia, consiga obter doze. Se, em seis artigos, a matéria-prima e os meios de trabalho entravam por 1 real e 50 centavos, entrarão por 3 reais em doze artigos, isto é, sempre por 25 centavos em cada artigo. Esses 3 reais somados aos 3 que o capitalista paga ao operário pelo uso de sua força de trabalho durante doze horas, perfazem 6 reais, que representam o preço líquido dos doze artigos: cada um lhe custa, portanto, 50 centavos, aos quais se acrescenta a décima segunda parte da mais-valia (ou seja, 25 centavos: pois cada artigo tem o valor de 75 centavos). O capitalista tem, agora, necessidade de obter uma saída maior no mercado, para vender uma quantidade dobrada de sua mercadoria; e o consegue, diminuindo um pouco o seu preço. Em outras palavras, o capitalista tem necessidade de arranjar uma razão para que os seus artigos sejam vendidos no mercado em quantidade dobrada; e essa razão ele a dá ao comprador por uma baixa de preços, pois vendará os seus artigos por um preço um pouco inferior a 1 real e 25 centavos, que era o seu preço anterior, mas superior a 75 centavos, que é a cifra do que eles valem hoje. Ele os venderá, por exemplo, a 1 real cada um, e terá assegurado, assim, o dobro da saída dos seus artigos, sobre os quais ganha hoje 6 reais; 3 de mais-valia e 3 que representam a diferença, multiplicada por 12, entre o valor de cada artigo (75 centavos) e o seu preço de venda (1 real).


Como se vê, o capitalista tirou uma grande vantagem desse aumento da produção. Todos os capitalistas se interessam, pois, grandemente, pelo aumento dos produtos de sua indústria, e é o que conseguem fazer diariamente em qualquer gênero de produção. Mas, o seu ganho extraordinário, o que representa a diferença entre o valor da mercadoria e o preço pelo qual é vendida, dura pouco, porque logo o sistema novo ou aperfeiçoado de produção é adotado por todos por necessidade. O resultado é, então, que o preço de venda da mercadoria é reduzido ao valor real desta; antes, esse valor era de 1 real e 25 centavos, e o artigo se vendia pelo menos preço; hoje, não é mais do que 75 centímetros, e o artigo se vende não mais por 1 real, mas por 75 centavos. Mas, o capitalista, se não tem maior ganho proveniente da diferença entre o valor da mercadoria e o preço de venda, conserva sempre a integridade da mais-valia: esta é repartida sobre doze artigos, em lugar de o seu sobre seis somente; mas, como os doze artigos são reproduzidos no mesmo tempo que o eram os seis, isto é, em doze horas de trabalho, a mais-valia ficou a mesma; e se têm, como último resultado, sempre 3 reais de mais-valia sobre uma jornada de 12 horas, mas com uma produção maior.


Quando esse aumento da produção recai sobre as mercadorias necessárias aos trabalhadores, o resultado é a baixa do preço da força de trabalho e,consequentemente, a diminuição e o aumento do sobretrabalho que produz a mais-valia relativa.

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