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Coluna do Samuel

Dona Zefa, a Cooperativa e o constante murmúrio irracional


(Foto por: Giovanna Sacrini)

É inegável reclamarmos sobre nossas vidas cada vez que surge um problema que nos impede atingir a "vida perfeita", tendo o desabafo que não está sendo fácil. Claro que já sabia que a tal "vida perfeita" é interpretada de inúmeras maneiras, dizendo por experiência própria, pois a minha era totalmente diferente daqueles que comecei a ter contato com mais frequência, ao entrar em uma escola considerada de elite.

Apesar de ter me acostumado com visões de mundo diferentes da minha, o "diferente" que considerava era sendo superior, em que as pessoas tinham muito mais do que eu e era constante o pensamento fútil e inevitável que temos quando começamos a conviver com pessoas consideradas superiores economicamente. Me lembro muito bem (porquê ele ainda existe) de tal pensamento: Se você tem tudo, por que reclama?

Depois de vistar a cooperativa, eu pensei: Mas o que é "tudo"? O que ele significa para mim?

Tudo é aquilo que não possuo e que gostaria de possuir.

E para quem trabalha na Cooperativa, eu tenho o "tudo".

Foi um verdadeiro choque pra todos, e o motivo é revelador. Eles são felizes, felizes com o que tem e com o que conseguiram. Felizes com os nossos restos.

Conheci uma senhora, a que estava mais tempo lá. Seu nome era Josefa, mais conhecida como Dona Zefa.

Ela me fez abrir os olhos de como eu estive tão perto dela, algo que nunca imaginei. Perguntei sobre sua vida e logo foi falando, sempre com muito orgulho, porque foi batalhadora. Tinha acabado de conseguir comprar uma casa ali perto, sua alegria era evidente. Me disse que morava num bairro chamado Cruzeiro, há 20 anos e que finalmente tinha conseguido sair de la. Compartilhei com ela a situação parecida com meus pais que também moravam nesse bairro e que haviam se mudado quando nasci. Ela ficou curiosa e perguntou seus nomes, já que todos na região se conheciam e quando eu disse, ela pensou um pouco e disse que os conhecia.

Por um momento fiquei quieta. Os conhecia?

Esse foi, de todos os momentos vividos naquele lugar, o que mais me marcou.

Conhecendo ou não, a sensação que eu tive foi única, me fez perceber que eu ignorava algo tão próximo de mim, enquanto me submetia à noção de "inferioridade", em que as pessoas tinham muito mais do que eu e, portanto, era constante o pensamento fútil e inevitável que temos quando começamos a conviver com pessoas consideradas superiores economicamente. Me lembro muito bem (porquê ele ainda existe) de tal pensamento: Se você tem tudo, por que reclama?

Depois de vistar a cooperativa, eu pensei: Mas o que é "tudo"? O que ele significa para mim?

Tudo é aquilo que não possuo e que gostaria de possuir.

E para quem trabalha na Cooperativa, eu tenho o "tudo".

Foi um verdadeiro choque pra todos, e o motivo é revelador. Eles são felizes, felizes com o que tem e com o que conseguiram. Felizes com os nossos restos.

Conheci uma senhora, a que estava mais tempo lá. Seu nome era Josefa, mais conhecida como Dona Zefa.

Ela me fez abrir os olhos de como eu estive tão perto dela, algo que nunca imaginei. Perguntei sobre sua vida e logo foi falando, sempre com muito orgulho, porque foi batalhadora. Tinha acabado de conseguir comprar uma casa ali perto, sua alegria era evidente. Me disse que morava num bairro chamado Cruzeiro, há 20 anos, e que finalmente tinha conseguido sair de lá. Compartilhei com ela a situação parecida com meus pais que também moravam nesse bairro e que haviam se mudado quando nasci. Ela ficou curiosa e perguntou seus nomes, já que todos na região costumavam se conhecer, e quando eu disse, ela pensou um pouco e disse que os conhecia. Por um momento fiquei quieta...

Os conhecia? Como?

Esse foi, de todos os momentos vividos naquele lugar, o que mais me marcou. Conhecendo ou não, a sensação que eu tive foi única, me fez perceber que eu ignorava algo tão próximo de mim e que poderia estar no lugar dela e que se isso ocorresse, pela minha surpresa, estaria feliz, como eles estão. Pra eles, a "vida perfeita" nada mais é do que conseguir atingir a felicidade. Acho que não só pra eles, mas parece que não são eles que reclamam.

As reclamações são os desejos aos olhos de muitos.

E elas são constantes.

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