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Coluna do Samuel

Imaginações sob a lua nova (De Gabriela Wara Rêgo)


Escrevo memórias doces da menina da vila do vale encantado.

Num exercício de teatro, daqueles em que se apagam as luzes, e correm, andam, param, se esticam…

De um lado pra outro, de dentro pra fora, avisto Flora, com aquela linda cabeça raspada.

Olho em seus olhos negros, olhos de Turmalina negra

Me apaixono pela rouquidão da sua voz

E ainda nem a ouvi falar…

“Novamente” diz o professor de teatro.

E desliga as luzes,repetimos o mesmo processo.

Dessa vez, depois de repetir o processo, temos que ficar parados, de frente pra quem estiver mais perto, no breu daquela sala

Não enxerguei, mas coincidentemente(ou não) parei de frente com uma mulher de cabeça raspada.

“Toque o rosto do personagem, toque o rosto, sintam-o, as mãos, os cabelos, os seios,o peito, o pulsar, o sexo, sintam-o”

Ouço.

Faço.

O calor da pele, a maciez das mãos, os cabelos crescendo, as orelhas frias, olhos fechados,tato ativo, sentidos aguçados

lambo a orelha esquerda

ouço um tamborzinho batucar no peito

chego mais perto dos lábios

misturo nossa respiração quente,sinto.

beijo-a.

com vontade,com sede.

até o fim do pote.

(mas não há pote)

Gosto de gente viva, viva!

lábios carnudos.

“Parem”

Paro.

Ligam-se as luzes…

“façam um círculo e andem”

Não há mais ninguém ao meu lado.

A moça careca sumiu de cá.

Desperto e entro no círculo e ando…

Avisto duas moças de cabeça raspada.

Me perco, não sei qual senti, toquei, beijei.

Qual era Flora?

Sorrio.

Gabriela Wara Rêgo.

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